Intro — Funça não é tudo igual
Na primeira parte da investigação (disponível aqui) ficou claro que, em termos de Remuneração Média — RM —, os vínculos formais de trabalho apresentam comportamento muito distinto entre os brasileiros que são Funcionários Públicos (jocosamente “Funças”) e os que não são (a “Plebe”, também jocosamente). Os Funças tendem a ganhar muito mais!
Ocorre que Funça não é tudo igual. Há o pessoal da limpeza da UBS do bairro, por exemplo, que não necessariamente possui remuneração muito superior ao de um auxiliar de limpeza em uma entidade privada. E há os desembargadores, cuja remuneração mensal é vários múltiplos da RM da plebe (que é R$2144, em escala nacional). Não só os cargos variam muito, e com isso a remuneração, mas se a entidade empregadora é da esfera Federal, Estadual ou Municipal da Administração Pública.
Parte1 — o Baixo Clero (ou Funças Municipais)
Funças da Administração Municipal possuem remuneração enormemente variada de acordo com o município (não diga!) e com o cargo, mas de maneira geral eles compõem o “baixo clero” e não estão tão distantes da “plebe” — ainda que retenham privilégios como estabilidade e afins, tendem a ganhar pouco. Ou melhor, tendem a ganhar pouco quando os comparamos aos demais Funças.
O Brasil é bastante desigual em termos estaduais, e abaixo um mapa exibe a Remuneração Média dos Funças Municipais para cada estado. Não é surpreendente que Brasília se destaque, bem como se percebe que alguns estados ricos, como SP e RJ, remuneram pouco acima da média (dos Funças Municipais).
Parte2 — Bispos e Arcebispos (ou Funças Estaduais)
Já os Funças Estaduais tendem a ser remunerados, em média, com múltiplos da RM da “plebe” — embora isso varie muito de acordo com o cargo e com o estado (não diiiiiiga!). O histograma baixo apresenta a distribuição de Remuneração Média para este estamento afortunado:
A variação desta Remuneração Média é bastante expressiva no território nacional. Em uma mesma região não muito rica, o Nordeste, paga-se abaixo da média (dos Funças Estaduais) no Piauí, mas acima da média na Bahia. Sem surpresas, novamente o DF se sobressai como bom pagador. E é um tanto quanto surpreendente que estados ricos, como SP e MG, paguem seus Funças Estaduais ligeiramente abaixo da média nacional.
Parte3 — os Cardeais (ou Funças Federais)
A nata da nata. Os Funças Federais são premiados com vários múltiplos da RM da “plebe” em todo o país. Aliás, a distribuição de Remuneração Média para o mais afortunado dos estamentos em nossa sociedade é multimodal, apresentando diversos “picos”, dois deles acima de R$10k. Sua cauda muito longa foi cortada para manter coerência com os demais Funças, cuja cauda foi cortada em R$20k.
Grande surpresa, o DF remunera seus Funças Federais abaixo da (suntuosa) média (nacional) para a categoria, com a coroa indo para SP e PR. Notável boa premiação para os lordes nordestinos, incluindo os do Piauí:
Parte4 — Tabelas
Valores exatos das agregações sobre os dados da RAIS (2020) para os Funças:
Comparando com a “Plebe”, é possível expressar os valores acima em múltiplos do RM do brasileiro (R$2144):
Considerando a inflação e atualizando os valores pelo IPCA. A utilidade maior desta tabela é nos dar uma noção mais apurada dos valores da primeira tabela, com o dinheiro segundo o valor que ele tinha em setembro de 2022:
Tabela dos Funças Municipais, por estado:
Tabela dos Funças Estaduais, por estado:
Tabela dos Funças Federais, por estado:
Muito bom, Leandro! Uma armadilha dos dados que eu não sei se vc olho: os militares são lançados todos no DF. Como tem muita gente de baixa patente, isso puxa a remuneração do DF para baixo.
Talvez seja legal vc olhar para os professores federais em separado.