Quando 10k sóis se apagarem ... ainda haverá um mundo!
Não se deve temer o "fim do mundo", a extinção humana, mas sim um retrocesso substancial que legará miséria e penúria aos nossos descendentes.
Não se sabe ao certo como seria uma guerra na qual as partes de fato usassem ogivas nucleares. Um cenário hipotético exagerado seria o lançamento concomitante de milhares de ogivas, e em uns 20 minutos, no máximo 1h ou 2h, não haveria mais o que ser lançado e todas elas teriam sido detonadas.
É um cenário possível, mas improvável, posto que deveras irracional. Não é um meio de se conseguir um objetivo militar ou político, e parece mais puro desejo destrutivo ou de vingança. Seja como for, fiquemos com este cenário.
Se as grandes potências nucleares se enfrentarem belicamente e fizerem uso desta "estratégia", é garantido que as maiores e mais importantes metrópoles do Hemisfério Norte sejam completamente destruídas, e muito da infraestrutura mais básica de geração e transmissão de energia elétrica também, bem como extração, beneficiamento e distribuição de óleo e gás, água e esgoto, etc.
Na super "tempestade nuclear" em si, centenas de milhões de mortos. Os anos vindouros veriam um tanto semelhante de mortos por fome, doença e violência. E em poucas décadas seríamos lançados a um mergulho de cabeça ao primitivismo, pois deixaríamos de poder contar com a tecnologia atual e com a rede global de troca de bens, serviços e idéias.
Talvez voltássemos ao Neolítico, e seria uma vida miserável de muito trabalho e disputas violentas entre assentamentos vizinhos, com toda pequena comunidade lutando para sobreviver até o ano seguinte. Décadas adiante, uns poucos séculos, e sombras do “nosso” mundo tornar-se-iam lendas.
Por várias décadas ou séculos haveria elevada incidência de doenças e mortes em decorrência de se buscar suprimentos ou refúgio em áreas altamente contaminadas por radiação. Pareceria algum tipo de maldição, mágica ou vontade divina às pessoas, e seriam criados tabus para se evitar certos lugares, enquanto noutros cantos seria requerido que jovens guerreiros provassem sua coragem em excursões a certos lugares proibidos.
Mesmo depois de milhares de sóis artificiais brilharem quase concomitantemente ao longo do planeta, restaria um mundo. E pessoas. E neste mundo, vidas laboriosas, perigosas, violentas e miseráveis, como o foi antes, no nosso passado remoto. Para os sobreviventes de nossa era, seria infernal. Para os descendentes destes sobreviventes, daqui décadas e séculos, seria quarta-feira — assim como foi quarta-feira há mil ou seis mil anos.
Não é que "vai ficar tudo bem" se houver uma hecatombe nuclear, não vai. Haverá miséria, violência, penúria por vários séculos, talvez milênios em decorrência disso. Mas lá estará o mundo, e nele haverá pessoas. Seria o fim de uma era, da “nossa” era, mas não "do mundo".
Não é útil nem razoável temer "o fim do mundo" ou "a extinção da humanidade". Isso não virá nem se nos esforçarmos para trazer tal fim. Mais útil e razoável cuidar para que a paz e prosperidade que alcançamos seja promovida, aprimorada, mantida — esta é a real ameaça para nós e nossos descendentes: a perda da condição que alcançamos. Nossa progênie herdará nossa bonança, sendo capaz de dispor de ainda mais riquezas, ou seremos lendas desconexas e confusas de uma mítica era de ouro em um mundo violento e miserável para nossos descendentes?
Civilizações colapsaram inúmeras vezes, e nem foi necessário usar uma hecatombe nuclear irracional. Mesmo sem disparar uma única biribinha atômica, podemos ruir e deixar de herança caos, morte, destruição e miséria. Cuidemos de evitar legar esta herança maldita aos vindouros, pois. Mas cuidado: profetas do apocalipse abundam, e muitas das pessoas com as melhores intenções inadvertidamente promovem exatamente este futuro sombrio.
Milhões de sóis artificiais não nos apagariam do planeta, mas poucas dezenas de decisões ruins, uma após a outra, podem produzir a mesma calamidade, sem sequer o "esplendor" das detonações nucleares.